Custou, mas estou de volta ao papel d’O Idiota Marketeiro! Estes quase dois meses foram repletos de trabalho. Foi um pico de trabalho quase inesperado, mas que por agora acalmou para entrar num outro ritmo. Acreditem que a gestão de trabalho dava para uma “idiotice” e pêras, se calhar até é uma ideia para mais tarde, uma reflexão sobre a gestão do trabalho em Marketing.

Pois bem, cá vamos nós continuar o caminho do Social Media Hero. Para esta semana, o tema escolhido é do género do anterior, eventualmente com um pouco menos de musicalidade.

As Redes Sociais entraram nas nossas vidas de uma forma quase bélica, a partilha de fotos, a criação de perfis atulhados de músicas, a possibilidade de fazer novos amigos e amigas… tudo isto à distância de um simples registo e a porta da utopia do paraíso estava aberta. Se por um lado, tinham tudo para resultar, por outro, o facto de transmitir “pouca” privacidade, poderia ser um entrave ao registo imediato. Mas, como todos nós pensamos ponderadamente no que fazemos, o registo foi imediato, a adesão foi maciça, e de repente, tínhamos criado um universo paralelo ao nosso.

free-social-media

Com estes perfis, podemos ser quem queremos, mesmo sem o ser. A vida pode ser levada através da “canção do bandido”, as fotos podem ser alteradas, enfim, somos nós e somos quem desejaríamos ser. (Que parágrafo profundo).

Contudo, não é este o caminho que esta reflexão vai tomar. Não se pretende julgar o “quem é quem”, mas sim “opinar” sobre os efeitos das Redes Sociais e os limites que estas têm, ou melhor, não têm.

Com efeito, comecemos por exemplos práticos, quando se trata de “morte”, faz algum sentido fazer “like” no post? Qual é o sentido do like nesse momento? “Gostas da morte”? Gostas da partilha? Ou gostas simplesmente só para dar apoio à pessoa que fez o post? E nos meios da comunicação, quando se tratam de notícias, tragédias, “últimas-horas”, o like que efeito tem? Mas mais importante que isso, para que serve?

Vejamos agora um outro exemplo, aquando dos atentados de Paris, aqueles filtros com as bandeiras, eram o quê? Para ter mais likes nas publicações pessoais? Aqueles posts extensos e cheios de palavras bonitas, eram o quê? Palavras demagogas e de psicologia barata? Mas o quê, de repente virámos todos muito solidários com o mundo? E no outro lado do mundo, também não deveria existir “filtros” para apoiar a Síria, o Quénia, Nigéria? Existem mortos de primeira e mortos de segunda? Parece de certa forma que andamos num fluxo de informação e a nossa vida é vivida em função de reações, partilhas, likes, etc. Se calhar vivemos emocionalmente num lado de uma forma e fisicamente noutro e de uma outra forma.

filtro_paris

Recentemente, aquele fenómeno do #entrocamentosemfim, Maria Leal, foi bombardeada com tudo o que é crítica, houve insurgimentos públicos, reacções mordazes, tudo porque apareceu e supostamente tirou espaço a outros artistas, mas qual foi o sentido dessas reacções e porquê tanto “ódio” nas Redes Sociais? Supostamente estas não servem só para ser todos amigos e interagirmos? Já dizia o outro, “bem ou mal, o que importa é falarem de mim”.

Têm todo o direito de poder julgar esta posição até aqui tomada, talvez seja uma opinião algo moralista, quem sabe presunçosa… ou até mesmo pensarem que é só para acender rastilhos e causar celeumas. A verdade é que é uma opinião, uma opinião de alguém que poderá gostar de mandar papaias ou até de ficar bonito na fotografia, lá está, é fácil colocar-me do outro lado e é isso que depois é escrutinado, tal e qual como quando se toma uma posição relacionada com determinado assunto, tudo vai depender do poder de encaixe das pessoas e de como estas pensam e vêem o mundo. Dando uma no cravo e outra na ferradura, a questão passa muito pela importância que se dá aos assuntos, às vezes esses likes, reações, apenas fazem crescer esses pimps sociais, #feedtheego, mas a verdade é que estes também só existem porque têm um público que os seguem de forma acérrima, sejam estes amigos, conhecidos, colegas, etc.

feed_the_ego

No fundo, a vida acaba por parecer fácil através das Redes Sociais, temos o mundo todo à distância dum teclado, temos a protecção de um monitor, smartphone, tablet, etc, o que é que se quer mais? A famosa Globalização que tanto se propaga, mais que parece uma Aldeialização. Convenhamos, não estaremos nós a viver num mundo de interesses? Estando as Redes Sociais a serem utilizadas como meios para divulgar mensagens que se pretendem implementar nas “massas”? Claro que é mais fácil acreditar nesta ideia se vivermos em função de opiniões que nos são “dadas!” e um exemplo que explica este pensamento, passa por fazer um regresso a um passado próximo, “Je suis Charlie”. De facto uma frase bonita, mas somos realmente Charlies? Aquele estilo de escárnio e maldizer? Ou apenas queríamos likes nas nossas publicações e somos “buéda” cools por colocar uma frase bonita no nosso perfil?

je-suis-charlie

Ok, isto é exagerar, porque de certeza que existem pessoas que têm “boas” intenções ao colocarem o quer que seja nos seus perfis.

As perguntas que se colocam são as seguintes, há limites nas Redes Sociais? Até onde é que podemos e devemos de ir? Quer-me parecer que estamos tão emaranhados nas “Redes” e nesta cavalgada da revolução tecnológica, que estamos a colocar de parte a palavra “Socais”, para dar lugar à palavra “Peões”. Mas é assim, neste universo paralelo, o caminho da inovação é tão tentador que qualquer update, só vai servir para aumentar o show-off e dizer ainda mais bacuradas. Tentemos manter o nosso lado humano intacto e a nossa sanidade sã.

Em suma, tudo isto é um loop infinito quando falamos de assuntos delicados da esfera pública. Facilmente somos aglutinados pelo pensamento global, tudo nos surge no feed de notícias, os conteúdos patrocinados, os ads, pop-ups, basicamente, tudo aquilo que alimenta esta necessidade de informação. Um dia gostamos de laranjas, num outro, já não gostamos do seu sabor.”Refugiados? Ladrões, violadores, ajudem é os nossos sem abrigo seus malandros”, (segundos mais tarde), “Portugal recebe os primeiros refugiados”, segue um post para o Facebook, “Que Orgulho!”.

E assim termina um mais um dia na pele de #SocialMediaHero. Desta vez, Leopoldo Passarinho, mais um convidado d’O Idiota Marketeiro.

Artigos Relacionados.