Cumprimentos! Seres únicos neste nosso enorme mundo com designação de Planeta Terra. Hoje, preparei para vós, umas histórias baseadas em factos verídicos. Falarei de certos caminhantes errantes da baixa Portuense e de outros tantos, que sem desprimor pelos mesmos, dão uma “certa” alegria à maravilhosa Cidade Invicta e arredores. E porque haveria eu de me lembrar destes personagens? Porque, e como devem ter reparado pelas últimas idiotices, tenho andado numa de “Guru Marketeiro”, tentando dar umas dicas sobre determinados tipos de Marketing. Comecei pelo Marketing Motivacional, seguiu-se o Gaming Marketing, e para hoje, inspirado nestes tais personagens, falarei de Marketing Pessoal.
Com efeito, primeiro, enquadrarei estes “caminhantes” em diversos cenários, depois relatarei o resultado de cada história.
A primeira história é muito simples, estou na Rua de Cedofeita, um indivíduo ornamentado com uma cava branca, calção azul-escuro, meias brancas até ao joelho e cabelo branco “à Paulo Bento” aproxima-se e diz, “Empresta-me 1 euro?”.
Resultado – Não emprestei o euro e sempre que o vejo, faz a mesma pergunta. A questão é, será que ele devolve o euro?
Segunda história, Avenida dos Aliados numa loucura, uma senhora, vestida “normalmente”, vindo numa marcha infernal (ao jeito de “100-120, se te apanho fodo”), com o seu cabelo afro a esvoaçar, aproxima-se e diz, “Olhe Sr., pága-me uma soupa?”.
Resultado – Não paguei a sopa, mas assisti posteriormente a um, aliás, dois momentos desta senhora memoráveis. O primeiro foi, vira-se para um senhor, pergunta o mesmo e este diz, “ande comigo então”, ela responde, “não quero ir a esse café, vamos aquele da esquina, é aquele que vou sempre”, o sr diz, “quanto é lá a sopa?”, ela responde, 5€, ele atónito, “tão caro? Qual é a diferença?” Ela diz, “tem broa”. Segundo momento, grupo de estrangeiros, “senhor, manjê un soup, manjê um soup”. Priceless.
Terceira história, novamente Avenida dos Aliados, outra vez uma senhora, mas desta vez, vestida normalmente, sem aspas, aproxima-se e diz, “Eu não quero dinheiro, tou só a vender estes cinzeiros feitos de lata para ajudar a associação à qual faço parte, estou numa de sensibilização, não queres contribuir com qualquer ajuda monetária e dou-te um deles?”.
Resultado – Dessa vez não lhe comprei os cinzeiros, na semana a seguir, já andava a vender pins, e numa outra, estava só a pedir dinheiro, corri o risco de lhe dar, acusou-me de ser pouco.
Quarta história, Estação de Metro, Jardim do Morro, em Vila Nova de Gaia, era por volta das 23.30h, um individuo bem-parecido aborda-me e diz o seguinte, “Boa noite, não te preocupes, não te vou fazer mal, é o seguinte, saí ontem da prisão, tive 8 anos preso por homicídio, estou sem dinheiro, a tentar recompor-me na vida, por acaso não tens uns trocos para eu comprar uma viagem de metro?”.
Resultado – Disse que não tinha trocado, respondeu-me, “tem uma boa noite”.
Quinta história, voltamos à Avenida dos Aliados, um ambiente nocturno a pairar no ar, um man, todo gingão, com um blazer e calças de sarja vestidas, sapato de ir à madrinha, chega ao pé de mim e diz, “Maior, não tens aí 1 eurito para gota? Fiquei com o carro apeado, tá fodido para ir para casa, opa…mas não penses que é para droga, achas mesmo que um gajo assim vestido e que mora na Foz, droga-se?”.
Resultado – Este artista a partir desta ocasião, teve uma série de encontros comigo, o segundo, estava todo esfarrapado, com uma ressaca do tamanho do mundo a pedir 20 cêntimos, também era para “gota”. No terceiro encontro disse logo, “já sei a tua história da gasolina, esquece”, ao qual ele me responde, “cuidado, tenho aqui uma seringa com sida”. Corri perigos de vida portanto.
Sexta história, Praça dos Leões, uma senhora a chorar compulsivamente, aborda-me dizendo, “desculpe estar a incomodar, os meus filhos estão em casa, doentes, precisão destes medicamentos (saca duma receita), não tenho dinheiro nenhum, eu sei que pedir é uma vergonha, mas não me pode ajudar com alguma coisa? Eu não estou a mentir”.
Resultado – Ela não mentiu na história, mentiu foi nas lágrimas, nunca vi como é que se pode fingir um tsunami de lágrimas em segundos e ir a outra pessoa pedir dinheiro, sem estas se notarem.
Sétima história, três miúdas romenas mudas, chegam ao pé de mim com um papel numa mica, dão-me uma caneta, apontam para eu assinar e de seguida estendem-me a mão.
Resultado – Óbvio que não fui na cantiga do assinar, mas melhor, no dia a seguir, os pais, estavam às 7 da manha a dizer para que sítio iam as miúdas naquela manha pedir assinaturas. Posto isto, houve um milagre, voltaram a falar e sabiam reclamar com pais.
Oitava história, de volta ao Jardim do Morro, Domingo solarengo, mas desta vez não sou protagonista. Estava eu a aguardar o metro, quando uma senhora pede a uma jovem, se podia destrocar 1euro em duas de 50 para comprar uma viagem de metro, quando a viagem é 1,2€, estranho eu sei.
Resultado – No domingo seguinte, vejo essa senhora a falar com um casal de ingleses, a dizer, que só tinha só 50 euros, não tinha trocos para o metro, e melhor, estava em Portugal de férias, tinha uma casa na Suiça. Novamente “estranho”.
Nona história, Avenida dos Aliados pela enésima vez, estava eu descanso num banco, quando do nada, vem um rapaz, a dizer desesperado, “Filho, arranja aí algum dinheiro, tenho os miúdos no quarto da pensão, preciso de comprar leite, arranjas? O pior é que tenho de pagar o quarto também.”.
Resultado – Não tinha trocos para lhe dar, mas pelos vistos o leite acabou rápido, no dia seguinte, a história era a mesma.
Décima história, e aquela que deu origem ao título, descendo a Rua Mouzinho da Silveira em direcção à Ribeira, um man, com um estilo muito próprio, arrisco mesmo a dizer, um “rockeiro”, interpela-me com o seguinte discurso, “Chamo-me (…), tenho 28 anos, sou pianista, saí agora de casa dos meus pais, não roubo, não fumo, estou somente a tentar arrendar um quarto, por ventura o jovem não me pode ajudar financeiramente para cumprir este desejo?”.
Resultado – Confesso que, de todas estas histórias, esta foi aquela que mais me pareceu verídica, ouvir aquilo tudo, um discurso tão eloquente, mexeu comigo. Pena é que, umas semanas mais tarde, a história era a mesma, ainda lhe disse, “opa não te lembras de mim? Já me contaste essa história”. Recentemente, veio ter de novo comigo, mas desta vez, disse-me tudo em inglês, eu respondi novamente, “nem vale a pena, já te conheço”, ao qual ele respondeu, num tom irónico, “já vi que sabes a história, boa noite”.
Ora bem, eu sei que me excedi na quantidade de palavras, mas teve de ser, isto são demasiados pormenores importantes para ficarem desta idiotice, mas adiante. Se formos, parte a parte, conseguimos aqui identificar os pontos essenciais para um bom plano de Marketing Pessoal, ora vejamos:
1 – Ter um objectivo. Aqui o que não falta são objectivos, “soupa com broa”, leite, medicamentos, gasolina, assinaturas, mas acima de tudo, conseguir dinheiro.
2 – Ser único e original, ser uma Marca. Ninguém dúvida do “carisma” destas pessoas. Todas elas à sua maneira são ícones, pela forma de vestir, pelos discursos conhecidos de trás para a frente, etc.
3 – Analisar o nosso ponto de situação. Não sendo frio, nem cruel, apesar de tudo, nestes tipos de casos, “estes” extremos, foram meios para atingir os fins. Existe uma necessidade patente.
4 – A nossa imagem perante os outros. Somos ou não fiáveis? Como devem imaginar, alguns “safavam-se”, outros nem tanto. A imagem “vende-nos”.
5 – Capacidade de comunicar. O discurso certo, no momento certo, pode fazer a diferença. As palavras utilizadas podem fazer mexer com o íntimo do ouvinte.
6 – Conhecer o nosso target e “Mercado”. Todos eles sabiam a quem deviam pedir dinheiro: A jovens, criando medo nestes pelo “aspecto”, ou então, pedir a pessoas mais velhas, que facilmente ficariam sensibilizadas com as histórias de vida. Referir ainda, que todos eles sabem onde anda o “dinheiro”, existindo pontos de afluência turística, é automaticamente um chamariz para estes caminhantes.
7 – Possuir “extras”. Ter um “plus” é essencial, por exemplo, conhecimento de línguas em situações destas, é um “luxo”. “Manjê un soup?” Sem palavras.
8 – Incisivo e persistente. Podem ser chatos e repetitivos, mas só assim vão conseguir vender o seu peixe, eventualmente alguém vai-se fartar e dizer, “Eu dou-te a p*uta do euro”.
9 – Rede de conhecimentos. Talvez o ponto não tão explícito, uma vez que, é tudo lobo solitário, quer dizer, ser “mudo” e com pais com conhecimentos geográficos é fundamental. Contudo, ter uma vasta rede de contactos é importantíssimo, espalhar a palavra.
10 – Tal como num Plano de Marketing, FUNDAMENTAL actualizarmo-nos constantemente.