Muito já se falou sobre as pragas trending que andam por este Portugal fora, o sushi, os selfiestick, a quantidade de cromos repetidos com a mesma roupa (quer dizer…com SWAG, perdão) viver em ginásios em que os únicos ornamentos são um banco de ferro e um espelho embaciado, as bebidas espirituosas, etc. Mas de todas estas modas, aquela que continua a crescer e a inovar constantemente nos conceitos, chegando mais longe pela diversidade de novos sabores que trás aos consumidores, é o Fast-food Gourmet, ou numa versão ainda mais de chico das alheiras, gente de plebe, é algo “leve” para encher o “bandulho” que atrai montes de likes de gajas no facebook #foodporn #foodlover.
Primeiro, algo que nunca entendi e que ainda hoje me faz confusão, é de como gourmet e fast-food conseguem caber numa frase. Segundo, juntar os dois… e a receita ser de sucesso, mais confuso ainda se torna. Eu até percebo a diversidade nos conceitos de comida, até nisso mostra que somos “garfos” exigentes, sempre à procura de novas experiências gastronómicas, mas o facto de existirem tascos gourmet por tudo o que é sítio, é dose.
Mas, vamos lá então passar a um exemplo. Hoje em dia, come-se um hambúrguer todo xpto em média por 5/10€, fora bebidas ou sobremesas, ou seja, come-se tainhas por caviar (nota: a tainha nem comida por meio euro). Por outras palavras, mesmo sendo um “simples hambúrguer”, onde a diferença é de ser 20 gramas mais pesado que um berlinde, já leva o selo gourmet, tudo porque é feito com uma carne criada no campo da Antónia e é acompanhado por uns molhos que fazem obrar abundantemente. Tudo isto para dizer que a questão não está na suposta qualidade, está sim, no conceito em si desta Fast-food Gourmet, porque parece que tudo é motivo para catalogar “comida”, fazendo com que o acessível, se torne “inacessível”.
Contudo, não temam, podem comer à vontade na mesma! Vejamos o lado mais “positivo” deste conceito. A indústria gastronómica tem assistido nos últimos anos a um súbito interesse por estes restaurantes Fast-food Gourmet. Que “primam” pelos melhores ingredientes, em doses mais apetrechadas e que são de “acesso rápido”. Muitas das Marcas bandeira a nível internacional de fast-food tiveram um aumento de lucros devido ao facto de apresentarem produtos mais elaborados, com novos sabores, com novas receitas, resumidamente, seguiram este paradigma do gourmet, o investimento que fizeram em novas técnicas de cozinha acabou por compensar. Para além disto, os restaurantes Fast-food Gourmet têm algo que ninguém consegue explicar, a criação de um vício nos seus consumidores, o que por si, facilmente “gera” buzz, publicidade grátis e uma visibilidade enorme nos Social Media, por causa exactamente dos #foodlovers.
Em contraste com este aumento de interesse pelo fast-food, os restaurantes casuais têm vindo a baixar a capacidade de manter e atrair “clientela”. Hoje em dia, se não se é um restaurante referência e com um qualquer tipo de factor de diferenciação, é muito complicado “aguentar” com a concorrência. Acrescentar ainda, o desgaste a nível comunicativo que isso exige para conseguir acompanhar a banda, porque vai ser sempre necessário uma maior disponibilidade para comunicar com os públicos-alvo e o Marketing tem de saber acompanhar os “pratos” para ter o menu ideal!
Este declínio, por sua vez, também pode ser explicado através de alguns pontos em que os restaurantes fast-food (agora falando nos casos em geral) são mais fortes, são eles:
- Os restaurantes fast-food são sempre locais com uma boa relação preço/qualidade;
- O preço é económico;
- Existe flexibilidade para pratos criativos, demonstrando “disponibilidade” para evoluir com as tendências;
- Por norma, oferecem opções saudáveis, sempre com criatividade à mistura (um contra-senso, é verdade).
Claro está, se falarmos nos restaurantes fast-food Gourmet, a conversa é outra (onde já lá iremos também), mas genericamente, são estes os traços gerais de um bom restaurante fast-food. Para além disto e voltando a repetir o que já foi dito, são restaurantes sempre presentes na mente dos consumidores.
Depois de aberto o apetite, vejamos então como é que o gourmet entra neste “prato”. No final da década dos anos 10 do segundo milénio, começaram a surgir os primeiros hambúrgueres gourmet’s. O conceito prometia ser ousado, os hambúrgueres eram maiores que um Big Mac, servidos com a tal carne mais pesada e uma mistura explosiva de sabores a acompanhar. Parecia um autêntico pedaço de paraíso na boca. Mas não se ficavam por aqui, a juntar a este verdadeiro mix, os restaurantes em si, todos eles eram cheios de particularidades. Existia claramente uma aposta na Marca, na criação de uma identidade própria, não se resumiam apenas a servir simples hambúrgueres, a missão era oferecerem, “O verdadeiro Hambúrguer”. Claro está, que este fenómeno começou a espalhar-se, começaram a ser criadas novas “gamas de preços”, os tascos locais reinventaram-se e passaram a ser pontos de roteiros gastronómicos e o incomum tasqueiro, tornou-se o fino comum. Este fenómeno também se explica através da aposta que foi feita na educação dos consumidores, porque, se por um lado, o fast-food é “pouco recomendável”, por outro, o gourmet torna-o “mais aceitável”.
No fundo, o Fast-food Gourmet virou modé porque o Marketing tornou-o “comestível”. Caso para dizer, Gourmet Marketing bovino, 100% carne certificada vinda da Quinta da Antónia. Uma história de: “Mais um exemplo da magia transformista do Marketing. Trending since year zero.”
P.S – Era eu, um catraio, e já comia na Margem Sul Fast-food gourmet, Diago’s Pizzaria. Loucos anos 90.