Olá a todos, tudo bem? Mais uma semana que passou acompanhada de muitas ideias a fluir na minha estrutura cerebral, chegado o dia de hoje, uma delas vai ganhar forma. Para hoje temos então, e como devem de ter reparado pelo título, como prato principal no “menu idiotice”, folhado misto! É verdade, será o mote de hoje, aviso desde já que esta idiotice será servida numa pequena dose, ao contrário das outras, que têm sido servidas em quantidade e com muito entulho(às vezes entusiasmo-me muito e a escrita toma conta de mim, eu sei).
Para quem vem ao restaurante “O Idiota Marketeiro” regularmente, certamente se lembrará de que na idiotice, “Coerências. Se soubesse o que sei hoje, era um pêssego”, referi ser natural de Lisboa, mas que agora morava na cidade de Vila Nova de Gaia(daí ser vizinho do Porto e contemplá-lo desde a Serra do Pilar). Esta mudança ocorreu quando tinha 12 anos, por motivos familiares, lá vim eu para estas terras do norte de Portugal feito saltimbanco. Quando cá cheguei, a hospitalidade demonstrada pelo povo nortenho com um desconhecido surpreendeu-me, não estando habituado a este calor social com um “estranho”, foi sem dúvida um excelente ponto de partida para uma integração, que foi e tem sido um sucesso. Por outro lado, a forma de falar e o vocabulário utilizado também acabaram por despertar curiosidade e uma certa empatia.
É aqui “nesta ponte”(trocadilho com a imagem) que entra o folhado misto. Trazendo-o para a mesa. Num dos meus primeiros contactos com as gentes portuenses, dou por mim a entrar numa pastelaria e a viver um momento caricato para um puto de 12 anos numa cidade desconhecida. De forma educada, dirijo-me à empregada de balcão dizendo, “Bom dia, era um folhado misto se faz favor”, ao qual ela me responde, “Bom dia, o que é isso?” (fiquei perplexo, a pensar, “E agora?”) Voltei a repetir, “um folhado misto por favor”, e ela na mesma a insistir, “não percebo, pode explicar”, acabei por tomar uma atitude, apontei e disse, “olhe, quero aquilo ali no lado direito da montra”, e com isto parece que uma luz desceu à terra e iluminou o meu caminho, ela entendeu e disse, “Ah, um Panike, quer um Panike misto“.
Como devem imaginar para um puto de Lisboa, aquilo era chinês, não entendia o conceito “Panike“, mas, depois deste episódio, lá entendi a vastidão de palavras diferentes da gíria Lisboeta e justiça seja feita, a minha curiosidade depois disto, claramente não poderia ter ficado melhor satisfeita.
Assim, e depois de perguntar o porquê, lá percebi que existia uma associação à Marca Panike, que realmente faz sentido, visto ser um produto comercializado pela mesma, aliás deve ter ajudado no mouth-to-mouth da Marca na Região Norte, uma vez que, não se fica pelo Panike Misto, é o Panike de Ovo, o Panike de Chocolate, em tudo que é sítio. Caso para dizer, “C’um Panik(e)!”
Contudo, a Panike, não é o único exemplo desta colagem de “palavras” a Marcas. No Porto, também é muito comum usar o termo “chicla/chiclete“, que depois de esmiuçado, entende-se ser a Marca de pastilhas elásticas, Chiclets, um termo que foi massificado para tudo o que é pastilha elástica, até arrisco dizer, que existem Marcas que devem ser uma coisa, mas no fim, acabam por passar por “Chiclets“.
Torna-se engraçado falar nestes exemplos, no meu caso, hoje em dia, utilizo muito a palavra Panike, por sua vez, uma pastilha elástica, continua a ser uma pastilha elástica. A verdade é que ao longo destes anos, fui percebendo a diversidade e riqueza dos vocabulários citados, imaginando também, que noutros locais as palavras sejam outras e outras Marcas venham à berra.
Aproveitando o fim de parágrafo, e num contexto mais global, no Portugal de antigamente, também existiram “colagens” de palavras a Marcas. Na altura, todas as esferográficas eram tratadas por BIC, independentemente da Marca, expressões como, “Empresta aí uma BIC“, “Tens uma BIC para escrever?”, eram bastantes comuns e comparando com os exemplos nortenhos, a situação é igual, foi uma Marca que, apesar de ter produtos de diversas áreas, cresceu com os portugueses através desta “colagem”, e certamente, a imagem da Marca ficará sempre na memória devido a estas expressões. Por outro lado, outro caso de “colagem” é a famosa Gillette, uma Marca de lâminas depilatórias que irá ficar sempre imortalizada no processo de depilação, quem é que nunca disse, “Fazes a depilação com Gillette ou com máquina?”, quando talvez se deveria dizer, “Usas uma lâmina depilatória ou máquina?”.
Em jeito de conclusão, são casos como estes que fazem as Marcas prosperar, vão estar sempre na “boca” das pessoas, são Marcas que “acompanharam” gerações, tornando-se exemplos de tradição e as primeiras escolhas de compra. Pensando bem, é bom existir estas diferenças na gíria linguística, percebemos que nelas existe identidade, uma história de alguém e de certeza que momentos foram ao “som” de muitas palavras diferentes, mas com significado igual.
P.S – Voltei a exceder-me, peço desculpa, é mais forte do que eu.