Neste passado Domingo, já a altas horas da madrugada, acabou a minha aventura musical no último dos grandes Festivais de Verão organizados em Portugal. Com muita música e maluquice à mistura, servi-me deste evento, tal como prometido, para me inspirar na “escritura” desta nova idiotice. O Idiota Marketeiro, qual campista ou crowdsurfer, fez marcar a sua presença no Festival Vodafone Paredes de Coura 2015, estando agora de volta para contar um pouco desta aventura festivaleira por Terras de Coira!
(Viagem ao Passado) Lembro-me da primeira vez que fui e de achar o Paredes de Coura um Festival um bocado estranho por não ter Activações de Marca visíveis, tipo aquelas por onde quer que passamos lá vem uma Barbie com um Ken perguntar se não queremos ganhar alguma coisa, insistindo num discurso formatado para fazer actividades “engraçadas” e ganhar uma panóplia de prémios (não me interpretem mal, mas para quem está habituado ao texas dos Festivais do Sul sabe perfeitamente que isto é bem patente, onde tudo e mais alguma coisa serve para promover Marcas). Na altura, e em conversa com amigos meus de Paredes de Coura dizia, “Epá, vocês aqui, brindes nada, venho aqui e nem uma almofada de plástico levo para a tenda ou uns óculos para mandar cenário durante a noite”, respondiam eles, “Aqui o Festival não é nada dessa onda comercial, serve para absorver cultura e viver o ambiente”. Voltava eu a insistir, “Mas que raio fazem os festivaleiros nesta semana durante o dia se não existem actividades das Marcas?” (Fim de viagem ao Passado).
(Voltando ao presente) Este ano, para meu espanto, acontece algo inédito, passes gerais e bilhetes diários do Festival, esgotam, o primeiro pensamento é, “Pânico! já não posso ser um Indie feliz com o meu barco a remos e cantar Tame Impala sempre que acordo”. Assim, esta conjugação de factores levou-me a encarar esta edição com alguma expectativa em torno de como seria o ambiente do Paredes de Coura. Chegado ao local, assisto a um sinistro, deparo-me com uma estrutura emadeirada, cheia de cor e luzes, com um segurança a guardá-la como se a vida dele dependesse disso, e no topo reparo numa palavra, YORN. Pois é meus caros, não é que a Vodafone este ano surpreendeu os mais desatentos e “espetou” a YORN no Festival? O único pensamento que me ocorreu foi o facto das minhas perguntas irem finalmente ter uma resposta.
Enquadrando isto num quadrado bonito, podemos dizer que a Guerra das Telecomunicações Móveis em Portugal tem chegado a níveis de competição ridículos, basicamente todas as semanas, e desculpem o termo, as Operadoras Privadas, representando grandes Marcas, dão peidos a ver se todos ouvem, constantemente arroz atrás de arroz, onde mudam apenas certas vantagens de adesão. E nesta Guerra, temos como players, Marcas que se “apoderaram” de 3 dos maiores Festivais de Verão em Portugal, foram elas, MEO, NOS e Vodafone, reforçando ainda mais o poder de divulgação dos seus Serviços Comunicacionais.
Assim, e voltando à direcção desta idiotice, vamos entrar no que eu chamo, Selvas de Verão. O facto da YORN ter entrado nesta edição do Vodafone Paredes de Coura só prova que alguém se iluminou e percebeu o crescimento das Marcas concorrentes com presenças em Festivais. A título de exemplo, a Moche desde que começou a “participar” no Sudoeste teve um enorme crescimento no Mercado, com visibilidade em tudo que é sitio e até tem um palco, o Moche Room.
Por sua vez, a NOS, e talvez por não necessitar de campanhas tão agressivas, vai posicionando o WTF com um certo distanciamento destas andanças e vai estando nas edições do NOS Alive sempre com moderação e comunicando de forma inteligente, através de indivíduos humorísticos, que se vão aproximando dos festivaleiros, dando a experenciar outro tipo de sensações, com entrevistas e intervenções rápidas.
Continuando a caminhar em direcção à Selva, ao longo dos anos tenho ido a diversos Festivais, tenho assistido ao crescimento das Activações de Marca e ao espaço que estas ocupam nos mesmos. Como já referi, a cada passo que damos, lá tropeçamos em brindes, programas, cartões, concursos, etc. A verdade, é que tudo é pretexto para comunicar, mas será realmente necessário uma competição assim tão grande? Se calhar, e olhando para o Mercado actual, seja imperativo este autêntico Marketing de Guerrilha, contudo, num Festival devia-se primeiro olhar para a música e não para os interesses secundários, porque, quando estas Marcas se associaram às Produtoras destes Festivais, foi essencialmente para promover o Festival ao qual estão associadas, olhar para os festivaleiros e darem-lhes as melhoras bandas de música e não insistirem com as pessoas para ganhar tshirts do Zé Cabra ou ganharem controlos de maternidade através de concursos em que se realizam posições sexuais.
Com efeito, e voltando à YORN, o facto do Paredes de Coura só agora “permitir” este Mainstream Branding, prova que foi conseguindo sobreviver à Selva das Activações de Marca, mas com a enchente deste ano, a hipótese do aparecimento de novas Marcas poderá potenciar uma Meca de Selvajaria de Verão, onde os barcos de remos comprados nos chineses e lojas locais irão ser substituídos por barcos a remos ganhos em concursos patrocinados pela YORN, onde o Indie tem de virar POP para ter um barco (Se tiver errado em relação a isto, cá estarei para assumir e fazer um update nesta idiotice!).
Em suma, Bem-Vindos às Selvas de Verão, onde estas Marcas gregárias, são o braço direito dos Patrocinadores Oficiais e as restantes vão-se comendo umas às outras, acompanhando o banquete com recheio de festivaleiro.
P.S – Ironia, este ano, ganhem uns óculos da YORN para mandar cenário durante a noite!