Às vezes nem sempre temos um pensamento lógico. O título de hoje é exemplo disso mesmo, não existe qualquer nexo nas palavras utilizadas. Durante esta semana tive uma crise de meia idade na minha mente criativa (quero crer que a tenho, deixei-me pelo menos sonhar com isso). Deparando-me com falta de ideias para fazer a minha “opinação” semanal, dei por mim a pensar em Poker e decidi então, sem mais por onde pegar, fazer um “All In“. Com esta jogada de mestre, deu-se-me um click na mente, lembrei-me de uma das primeiras tentativas mais mediáticas de vender uma região como Marca, o saudoso, Allgarve.
Em 2007, Manuel Pinho, Ministro da Economia, teve uma visão (#PorAcasoFoiIdeiaMinha) para impulsionar a Região Sul do País. Com promoção através do Turismo de Portugal, o Allgarve seria uma porta para o investimento estrangeiro, promovendo e dando a conhecer os diversos Concelhos Algarvios através de eventos festivos, movimentos culturais ou actividades turísticas. Era um conceito para comunicar a Região como uma só (daí o prefixo – “All“) e juntando o facto deste Algarve ser um destino Europeu Turístico de excelência, este termo “para inglês ver” era um isco para cativar os cidadãos do mundo que apreciam experiências “glamourosas“, estar de papo para o ar e apanhar um solzinho, encher o bucho com os produtos “gourmets” Algarvios, e acima de tudo, que apreciam a hospitalidade, o conforto e tudo aquilo que torna esta parte de Portugal singular. À boleia do “velhinho” Algarve, surgia esta nova Marca, assentada numa estratégia de internacionalizar Portugal, que procurava ser uma lufada de ar fresco e prometia relançar e fazer crescer a Economia Portuguesa.
Como é óbvio, e não estivéssemos nós em Portugal, surgiram zurros e vozes contraditórias que se opuseram a esta ideia do Allgarve. Alegou-se que a Região iria perder a sua identidade e que as gentes da terra não estavam a ser respeitadas. A verdade é que este Allgarve só durou 5 anos, para além de já estar condenado à nascença, faltou-lhe estratégias fluídas e consistentes em saber potencializá-lo como Marca. Por um lado, sendo uma entidade pública a dar a cara, claro que os velhos do restelo iam aparecer e falar em desvios de dinheiro, interesses paralelos e quem vai pagar são os contribuintes. Por outro, a ideia tinha pernas para andar, faltou a tal comunicação mais efectiva e planeada, porque se formos a ver nos dias de hoje, quantas não são as Regiões que já comunicam a sua identidade? Aliás, quantas Marcas Região não surgiram depois?
Fica a ideia de que houve uma tentativa de “All-In” com o Allgarve, pode não ter resultado, mas tentou-se. No fim, os arautos da desgraça, feitos corvos lá vieram dizer, “Eu bem que avisei”, mas terem colhões para melhorar e aproveitar o que de bom poderia existir, ficou-se pelo rabinho. E assim, este clima de nevoeiro ajudou ao desfecho desta novela, que culminou numa queda estrondosa, sem explicação e sem se discutir, coisa habitual em Portugal. Conclusão, criticar é sempre fácil, manter a coerência é que nem tanto. E digo isto porquê?
Ao mesmo tempo que caía o Allgarve, nasce a Norte, o Alltodouro, exactamente com a mesma premissa que o seu primo sulista, pretende ser a voz do Alto Douro e dos seus Concelhos. Dando experiências também elas vanguardistas, esplendorosas e com novas sensações, os encantos do Douro Vinhateiro, os socalcos carregados de vinhas, as Quintas onde é produzido o nosso Vinho do Porto e os trilhos de aventura, são “armas” usadas na operação de charme que está em marcha desde 2012.
Ora bem, se as ideias são praticamente iguais, mudando somente a paisagem do quadro, onde estará a tal incoerência que referi? Se calhar devia ter dito que este Alltodouro vem de um consórcio de empresários nortenhos, ou seja, é uma oferta privada, não existem dinheiros públicos ao barulho, o que por si só não levanta questões, o que faz piar fininho os arautos da desgraça, mas estes mesmos artistas, incrivelmente, apoiam a iniciativa e trabalham na sua promoção juntamente com este grupo de empresários. Eu não risco politiquices, mas é isto que faz dos humanos uns seres particulares, mostra que a hipocrisia é o pão nosso de cada dia na nossa sociedade.
Atenção, esta intervenção não tem qualquer sentido político, nem de menosprezo para com o Alltodouro, apenas procurei fazer o de sempre, esmiuçar o Marketing e nestes dois casos, temos um de insucesso e outro de sucesso. Coincidência ou não, nestas duas Marcas, é tudo uma questão de “All”, deu para tudo e para todos. No fim, ganha Portugal.
Só mais uma coisa, para não acharem que estou a ser do contra, deixo aqui o exemplo de como uma Cidade se tornou um case study, pelo facto de ter arriscado e se ter “tornado” uma Marca. Vindo de um lisboeta de gema, até vai soar estranho dizer isto, mas tenho de fazer esta referência, porque merece e é uma das actuais bandeiras de Portugal, com inúmeros prémios turísticos ganhos, que provam o encanto deste local cheio de tradição. Sem mais palavras, aqui vai (cliquem na imagem):
O Allgarve almejava isto, o Alltodouro está a trabalhar para isso, mas a Cidade Invicta, conquistou-o! “Botem ólhos nisto Portugal”.
Obrigado Porto, por me deixares ser teu vizinho e poder contemplar-te desde a Serra do Pilar.