Face aos terríveis acontecimentos que ocorreram na passada Sexta-Feira em Paris, não poderia deixar de “aproveitar” esta súbita onda de solidariedade com França, para esmiuçar um tipo de Marketing que está inevitavelmente ligado também, ao súbito despertar social, que ocorreu nestes últimos dias. Falo-vos do chamado Marketing Social, que agora tomará o papel de actor principal desta idiotice.
Nesse mesmo dia, depois de assistir a estas notícias de última hora, dou por mim a abrir a minha página pessoal de Facebook, quando que…por obra e graça do espírito santo (ou não), este mesmo Facebook, convida-me a aplicar um filtro da Bandeira de França na minha foto de perfil, mas não se ficou por aqui, para além disso, ainda me notificou que dois dos meus amigos “Facebookianos“, estavam a salvo destes mesmos ataques. Ora bem, isto é de se enaltecer, os “gajos” lá nos “States“devem estar em constante modo programação, porque um mini-upgrade destes, em larga escala, perante tais ataques, deve ter exigido ao “gajo” que pensou nestes filtros, um sangue frio de se louvar, porque se pensarmos racionalmente, quando estamos a ver pessoas a morrer o ideal para se fazer nesses momentos, é claramente ir para o PC e toca a “embandeirar” o pessoal (para terem uma noção, eu penso no mesmo e tudo!). Por outro lado, a ideia de localizar e sinalizar os utilizadores, isso sem dúvida que, e sem ironias, foi claramente uma bomba de oxigénio para aqueles que tinham por lá os familiares, amigos próximos ou até conhecidos.
Mas perguntam vocês, “onde está o Marketing Social no meio de tudo isto?”, a resposta é…está e não está, passo a explicar. A partir do momento em que cada um nós aplicou o filtro da Bandeira de França, estava a transmitir uma mensagem de solidariedade, união, força, esperança, mas acima de tudo, estava a “comunicar” o repúdio a este tipo de ataques à humanidade. Isto é o Marketing Social, o despertar da consciência social, é uma massificação de comportamentos em prol de algo maior, claro que não foi uma onda de solidariedade planeada, mas o imprevisto, acabou por, mesmo que por momentos, permitir que estivéssemos todos unidos em torno de uma causa comum. No entanto, esta mesma causa, transcende o social propriamente dito, porque não se extingue nestes actos, tem sido sim, o resultado de uma luta mundial de há muitos anos para cá contra o Estado Islâmico e contra o Terrorismo, e essa luta, já não é Marketing Social (ou será que é? Mas isso, são contos para outras histórias).
Contrariamente ao Marketing “mais” comercial, onde se procura influenciar e persuadir o consumidor a adquirir um determinado produto/serviço de uma determinada Marca, o Marketing Social, assenta numa tentativa de mudança de comportamentos em prol do benefício individual ou da Sociedade em geral. Para isso, conta com as técnicas e os instrumentos do Marketing “comum”, para alertar sobre as mais variadas causas sociais, a título de exemplo, o Cancro Mama, a Toxicodependência, os Sem-Abrigo, a Violência Doméstica ou a Sinistralidade Rodoviária. No caso de Paris, foi utilizado como forma de força e de sensibilização, mostrando que unidos, somos mais fortes que qualquer ataque terrorista. Por sua vez, estas causas sociais, têm tudo para poderem beneficiar com estes mesmos instrumentos de Marketing, uma vez que, são estes que ajudam no tal despertar e chamada à razão da Sociedade, consciencializando-nos de que existem motivos para estarmos mais atentos ao próximo e que podemos realmente fazer a diferença, ajudando e contribuindo para o chamado, “bem maior”.
Avançando e definido (ou quase) está o Marketing Social, convém agora, tecer algumas considerações.
Primeiro, o Marketing Social pode ser distinguido em duas vertentes:
- Marketing de Causas Sociais, definido por Pringle e Thompson (2004) como “a ferramenta estratégica de marketing e de posicionamento que associa uma empresa ou marca a uma questão ou causa social relevante com benefícios mútuos.” Para as Empresas é uma forma eficaz de melhorar a imagem corporativa, diferenciando produtos/serviços e aumentando as vendas e a fidelização. Para as Organizações Sem Fins Lucrativos (as principais promotoras das Causas) é uma forma de captar recursos, estabelecer alianças e incrementar a sua notoriedade de sustentada;
- Iniciativas Sociais Corporativas, definidas por Kotler (2005) como “as actividades relevantes levadas a cabo por uma organização para apoiar causas sociais e concretizar compromissos de responsabilidade social corporativa, que ajudam a contribuir para incrementar ou melhorar: saúde pública, segurança, educação, emprego, ambiente, desenvolvimento social, etc.
Uma pequena achega, onde é que já vimos isto aqui n’O Idiota Marketeiro? Lembram-se da idiotice, “Todos diferentes, todos iguais!”? Pois é, a United Colors of Benetton, é um excelente exemplo de Marketing Social, estendendo o seu raide de acção, apoiando inúmeras causas sociais.
Segundo, tal como no Marketing “comum”, também temos de ter em consideração os 4 “P’s”:
Produto – Não sendo propriamente uma oferta “física”, vai-se notando sim, em acções contínuas que procuram ser uma solução para os problemas identificados. Campanhas de sensibilização sazonais, recolhas de apoios pontuais, Palestras, Seminários, desenvolvimento de Produtos/Serviços (linhas de apoio, planos de reciclagem, prevenção médica, sopa dos pobres, etc);
Preço – O custo, diria antes, as “ajudas”, podem ser de forma monetária, oferta de roupas, alimentos, brinquedos, doar sangue, acima de tudo, tudo aquilo que acharmos que se adequa à causa que estamos a apoiar;
Placement (Distribuição) – O melhor para explicar este “P”, é nomeando, entidades sociais, cantinas sociais, banco alimentar, ou seja, entidades directamente ligadas às causas em questão.
Promotion (Promoção) – Acho que só o nome diz tudo, meios como a Publicidade, Relações Públicas, Eventos Solidários, Redes Sociais ou Cupões que revertem a favor de determinada causa, são excelentes formas de divulgação e formas de atingir massas.
Por fim, a nível de Planeamento e de Estratégia, para a implementação de uma boa Campanha de Marketing Social, ter em conta, aspectos como:
1 – Qual o comportamento que se pretende mudar.
2- Identificar o público-alvo.
3 – Identificar as dificuldades e reduzir as “barreiras” invisíveis que possam existir.
4 – Promover, divulgar e comunicar de forma clara o que se pretende, anunciar o quê e com que objectivo se pretende “ajudar”.
5 – Discriminar as acções e definir quais os seus fins.
6 – No fim de Campanha, fornecer os dados com impacto da Campanha, exemplo, “mais de uma tonelada de alimentos distribuídos pelo Banco Alimentar em 2014”. Fica bem e é credível.
Com efeito, temos assim, uma Campanha de Marketing Social pronta a sair para as ruas. Para que no fim, tenhamos resultados como: mudanças de comportamento, onde o despertar social seja assumido como fundamental na “criação” de interesse e motivação para ajudar e que não sejam repetidos erros do passado.
Lembrem-se sempre, não chega sermos Paris, não chega rezar por Paris, não chega dizer que somos Hebdos, não pode continuar a existir diferenças entre as mortes no Médio Oriente e na Europa, ocupamos ou não o mesmo espaço neste Planeta Terra? E outra coisa, não podemos SER SOCIAIS e só nos importarmos com o que realmente interessa quando nos convém, ganhar likes? Querer ser uma pessoa fixe perante os outros? Alimentar o ego social é pior merda que existe. Quando assim é, somos tristes e hipócritas.
JE SUIS? NÓS SOMOS! Todos diferentes, todos iguais.